Depoimento: formação de narradores com Stela Barbieri

Livro "Arte Despertar: primeira década". Fonte: Acervo Arte Despertar

Depoimento da artista, contadora de histórias e pesquisadora Stela Barbieri sobre o processo formativo de educadores, narradores de história e sobre a arte como ponto de encontro entre quem narra e quem escuta a narrativa. A educadora atuou na Associação Arte Despertar como formadora de educadores, apoiando a concepção metodológica e atuação com arte-educação e contação de histórias na organização.

O texto completo foi publicado no livro Arte Despertar: primeira década.

“Um dos primeiros desafios foi formar a equipe, que começou bem pequena, depois se ampliou. (…) A minha ação foi sempre junto aos educadores, tanto os que atuavam em hospitais quanto os que atuavam nas comunidades trabalhando com histórias da tradição oral. Nós procuramos sempre ativar um imaginário relacionado à diversidade cultural, às várias etnias, às festas sazonais, um universo que dialogasse com a cultura de cada pessoa que encontrávamos.

Era um trabalho de diálogo entre várias culturas. Eu fazia oficinas de formação bastante intensas, em que estudávamos as histórias, víamos arte, ouvíamos a música de uma mesma etnia. Tinha intenção de tecer uma visão abrangente com vários olhares para uma mesma cultura. (…)

Acredito que a arte realmente seja uma maneira de despertar, área de transformação, que leva o indivíduo a mudar o seu olhar, a sua visão do mundo. A arte trabalha com a sensibilidade e a percepção das pessoas, possibilitando outras maneiras de aprender, que podem trazer uma luz, uma nova perspectiva.

A Regina [Guarita] sempre trabalhou com a arte como forma de aprender com a própria experiência, fazer um trabalho no processo e trajetória de cada participante. Nunca deu passos largos demais, que
atropelassem o processo, sempre foi um passo após o outro, numa construção contínua que conta com a participação de todos. (…)

O universo das histórias pode levar um indivíduo a recontar a sua própria história. A Regina Machado, que é uma grande contadora de histórias, costuma dizer que existe um eixo vertical, que é o eixo da história, que faz uma incisão com o eixo horizontal, que é o eixo da nossa vida. E nesse encontro é que você pode, através daquela história, recontar sua própria história. O principal para o contador de histórias é estar a serviço da história e a serviço daquele ouvinte. Neste encontro está a potência
transformadora, através da obra de arte.

Então a obra de arte é o ponto de contato, é neste encontro de ambas as partes que acontece a possibilidade da transformação, de fazer aquele paciente que está doente ver o mundo
sob outro ponto de vista. Essa luz no fim do túnel está na obra de arte.

Eu acho que o contador de história precisa se conhecer muito bem e conhecer muito bem o universo das histórias, o universo cultural mesmo, tudo aquilo que cerca a história, o ambiente, a significação, os
cheiros, os climas, os sabores. Isso tudo impregna a história, todas essas camadas de leitura que uma cultura possibilita estão ali concentradas.

A complexidade humana das agruras da alma estão ali sintetizadas.
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