Muito caro à Arte Despertar, o conceito de “cuidar de quem cuida” diz da necessidade de se oferecer apoio e atenção aos cuidadores, sejam eles profissionais ligados ao cuidado, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem ou pessoas que acompanham formal ou informalmente pacientes em tratamento de saúde.
O bem-estar e saúde mental figuram, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), como pontos fundamentais para o desenvolvimento pessoal e interpessoal do ser humano. Para a organização, a promoção, proteção e recuperação da saúde mental devem ser preocupações vitais dos indivíduos, comunidades e sociedades.
Cuidadores informais
De acordo com Belmira Miranda, Mestre em Saúde Pública, é preciso entender que atenção ao cuidador deve considerar também aqueles que prestam cuidados a uma pessoa dependente sem receber remuneração, como um familiar, amigo ou vizinho. Para a pesquisadora, os cuidadores informais são responsáveis por grande parte do cuidado a pessoas com deficiência, idosos ou doentes crônicos, e muitas vezes, são ignorados pelos sistemas formais de saúde.
Milena Froes da Silva, Rosalvo de Jesus Oliveira, Maria de Lourdes Varandas & Albino Lopes, por sua vez, em um estudo publicado na revista “Revista Brasileira de Enfermagem”, identificaram que os principais fatores de estresse para os cuidadores informais são:
- Carga de trabalho: os cuidadores precisam dedicar longas horas ao cuidado da pessoa dependente, o que pode levar à sobrecarga física e emocional.
- Falta de apoio: os cuidadores muitas vezes se sentem sozinhos e sem apoio da família, amigos ou da sociedade.
- Compromisso financeiro: o cuidado de uma pessoa dependente pode gerar custos financeiros, que podem comprometer o orçamento familiar.
Cuidado profissional
Da mesma forma, inúmeras pesquisas brasileiras e internacionais vêm revelando que os trabalhadores formais da saúde estão exaustos, com alto nível de estresse e bastante desmotivados. Como exemplo, sondagem do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren) revelou que 53% dos respondentes afirmaram sofrer de adoecimento mental decorrente do trabalho – dado que se repete em outras capitais do globo.
O estresse crônico pode levar ao desenvolvimento do burnout, um distúrbio psíquico que se caracteriza por exaustão física e emocional, despersonalização e redução da realização pessoal: o que pode afetar a saúde física e mental do cuidador, bem como a qualidade do cuidado prestado à pessoa dependente. Tom Hutchinson, pesquisador e professor da McGuill, referência importante do referencial de Treinamento para o Desenvolvimento Humano, da Arte Despertar, identificou que os cuidadores com burnout são mais propensos a apresentar os seguintes sintomas:
- Exaustão física e emocional: cansaço constante, dificuldade de concentração, irritabilidade, dificuldade de dormir.
- Despersonalização: distanciamento emocional da pessoa dependente, falta de empatia, sentimentos de incompetência.
- Redução da realização pessoal: sensação de fracasso, perda de sentido no trabalho, sentimento de não estar contribuindo.
Na perspectiva da Arte Despertar, prevenir o burnout e outros problemas de saúde dos cuidadores formais ou informais, é necessário formalizar redes e processos de atenção e apoio, que podem ser oferecidos pela família, amigos, profissionais de saúde ou por meio de programas e serviços específicos para cuidadores.
Ações da Arte Despertar
Dessa forma, em ações integradas à Humanização da Saúde, a Arte Despertar enfatizou o cuidado a quem cuida como essencial não apenas para garantir a saúde e o bem-estar dos cuidadores, mas das pessoas deles dependentes e do bom funcionamento do próprio sistema de saúde. Iniciativas como o Sou Saúde o próprio Treinamento para o Desenvolvimento Humano tinham como foco essa atenção, oferecendo espaço para apoio e identificação das necessidades dos profissionais.
O tema Cuidar de quem cuida foi também o título de um projeto de formação de profissionais realizado pela Arte Despertar com diferentes hospitais da cidade de São Paulo. Durante a pandemia de Covid-19, a Arte Despertar desenvolveu o Movimento Acolher, que entre os objetivos, buscava justamente a atenção aos profissionais e cuidadores exaustos no contexto provocado pelo vírus.